quarta-feira, 23 de setembro de 2009

DA PRIVADA PARA A TORNEIRA

por Marina Saraiva


A expressão parece brincadeira de mau gosto, mas é assunto sério em uma das regiões mais ricas dos Estados Unidos. Nossa correspondente na Califórnia, Tanira Lebedeff, foi conferir o moderno sistema de tratamento que permite que a água do esgoto seja totalmente limpa e reaproveitada para o abastecimento da população, com toda a segurança.

Eu era daquelas que adoram meditar embaixo do chuveiro. Não mais. Agora minhas duchas duram menos de cinco minutos – são cronometradas por uma ampulheta que fica grudada na parede do banheiro. O brinquedinho é distribuído pelo departamento de água e esgoto do Condado de Orange, no sul da Califórnia, como instrumento de uma campanha de conservação da água.

Além do banho mais curto, estou me tornando uma expert em lavar louça com uma quantidade limitadíssima de água. Foi o que aprendi com esta reportagem para o Cidades e Soluções.

Não bastasse a crise econômica e os incêndios florestais, a Califórnia ainda enfrenta um outro grande problema: uma seca assustadora que já dura três anos. A agricultura sofre com isso, e as cidades também já sentem as consequências. A situação é tão grave que em fevereiro o Governador Arnold Schwarzenegger pediu que a população se esforce em reduzir o consumo individual de água em 20%.

Há um ano o Condado de Orange vem fazendo sua parte. Além das campanhas de conscientização, lá parte da água consumida pela população sai de um programa pioneiro e audacioso: reciclagem da água do esgoto.

É isso mesmo. Depois de livre dos dejetos, a água do esgoto é purificada e reaproveitada. O “sistema de reabastecimento do lençol freático” do Condado de Orange é o maior e mais moderno no mundo. Funciona com uma combinação de três processos de purificação: microfiltragem, osmose inversa e raios ultravioletas com peróxido de hidrogênio. O resultado é água limpa que, ao invés de ser jogada no mar, é devolvida à rede de abastecimento.

Claro que há quem perca o amigo, mas não a piada. Muita gente chama o processo de “from toilet to tap”, ou da patente para a torneira. Irresistível brincar com a idéia de que uma das áreas mais residenciais mais caras dos Estados Unidos esteja consumindo água que um dia andou… bom, você já sabe onde.

Mas também é impossível não se contagiar pelo entusiasmo de gente como Michael Markus, o administrador da planta de reciclagem de água. Quando garoto ele queria ser piloto de avião. A vista fraca não deixou, e ele decidiu ser engenheiro. Vendo o impacto do sistema que ele ajudou a planejar, construir e implementar, não há dúvida de que é um homem realizado. Mike nos levou para conhecer o sistema com o maior orgulho, e faz o mesmo com gente que vem do mundo inteiro aprender como conservar um bem tão precioso. Pra encerrar a visita, é claro, um brinde. De água reciclada.

Michael Markus, o administrador da planta de reciclagem de água

Michael Markus, o administrador da planta de reciclagem de água

terça-feira, 22 de setembro de 2009


Dia Mundial Sem Carro

Por Oded Grajew*

No dia Mundial Sem Carro, 22 de setembro, diversas atividades (programação no site http://www.nossasaopaulo.org.br) visam chamar a atenção da sociedade sobre os graves problemas causados pelo modelo de mobilidade adotado nas cidades que privilegiam o transporte individual e o automóvel.

Nesse modelo, o trânsito das grandes e médias cidades brasileiras ocupa um tempo precioso de todos os que nelas vivem, estudam e trabalham -o paulistano desperdiça, em média, duas horas e 43 minutos todos os dias nos congestionamentos. Tempo que poderia ser usado para o lazer, a cultura, para namorar, para estar com amigos e familiares.

Não bastasse todo esse tempo perdido, ainda ficamos expostos a um trânsito totalmente poluído, causando tumores e inúmeras doenças respiratórias e cardiovasculares. Estudos da Faculdade de Medicina da USP apontam que, apenas na cidade de São Paulo, morrem, em média, 12 pessoas por dia devido à poluição, encurtando a vida média do paulistano em um ano e meio.

Além do custo em vidas, os impactos operacionais e financeiros no sistema de saúde causados pela poluição são imensos. No mesmo sentido, é importante lembrar que o setor de transportes é responsável por 15% dos gases que causam o aquecimento global e a mudança climática.

O diesel e a gasolina consumidos no Brasil estão entre os piores do mundo, e a indústria automobilística fabrica motores menos poluentes apenas para exportação. Apesar disso, tramita no Congresso um projeto de lei que permite a comercialização no Brasil de carros leves a diesel.

Com a qualidade atual do diesel brasileiro (contendo altíssima quantidade de enxofre) e a tecnologia dos motores que a indústria automobilística utiliza no Brasil, a aprovação dessa lei resultaria na morte adicional de milhares de brasileiros por ano.
A inspeção veicular, obrigação dos governos estaduais e dos grandes municípios, ainda está muito longe de cumprir seu papel.
Nos acidentes de trânsito, morrem cerca de quatro pessoas por dia na cidade de São Paulo -44% pedestres, 18% motociclistas, 9% passageiros ou motoristas de autos e 3% ciclistas.

Nos últimos cinco anos, o Departamento Nacional de Trânsito teve à disposição R$ 415 milhões (provenientes das multas) para investir em projetos de redução de acidentes. Só R$ 5,3 milhões foram repassados!

Estudo da FGV calcula que a cidade de São Paulo deixa de gerar R$ 26,8 bilhões por ano devido à perda de tempo nos congestionamentos e aos custos totais ligados a acidentes e doenças derivados do trânsito.

Muitos fatores alimentam esses números sinistros. Nosso modelo de desenvolvimento urbano promove enorme desigualdade social, que obriga milhões de pessoas a se locomoverem por grandes distâncias para ter acesso ao trabalho e aos serviços e equipamentos públicos. Vivemos, cada vez mais, um modelo de mobilidade e transporte que oferece todos os incentivos possíveis para a locomoção por meio do automóvel.

Enquanto isso, os investimentos em transporte público coletivo continuam se arrastando lentamente.

Bilhões de reais que poderiam melhorar imediatamente o transporte público são gastos em túneis, novas pistas e avenidas que em pouco tempo estarão entupidas (são 800 novos carros por dia nas ruas de São Paulo!).

O governo federal promove incentivos fiscais e creditícios para a indústria automobilística sem a contrapartida de motores menos poluentes e matriz energética mais limpa.

Para mudar esse quadro, não faltam exemplos e propostas: dar prioridade absoluta para metrô, trens e corredores de ônibus; estabelecer políticas para facilitar e incentivar a locomoção por bicicletas; melhorar a qualidade do diesel e da gasolina e incrementar o uso de combustíveis mais limpos; comercializar no Brasil automóveis, ônibus e caminhões com a mesma tecnologia menos poluente que a indústria automobilística utiliza na Europa e nos EUA; oferecer segurança para o pedestre, calçadas de boa qualidade, acessibilidade universal para os deficientes físicos, rigor nas leis de trânsito e programas de educação cidadã; implementar inspeção veicular em toda a frota automobilística; redimensionar os investimentos públicos para diminuir a desigualdade social e regional na oferta de trabalho e no acesso a equipamentos e serviços públicos para diminuir a necessidade de deslocamentos.

Cabe à sociedade convencer os governos a priorizar, acima de localizados e poderosos interesses econômicos, a qualidade de vida dos cidadãos.

* Oded Grajew, 65, empresário, é um dos integrantes do Movimento Nossa São Paulo e membro do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. É idealizador do Fórum Social Mundial e idealizador e ex-presidente da Fundação Abrinq. Foi assessor especial do presidente da República (2003).


Publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo de domingo 20-09-09.


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